A publicação do livro "Psicogênese da Língua Escrita" por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky representa um marco fundamental no campo da alfabetização e da psicologia da educação. Sua importância reside na mudança de paradigma que propôs, afastando-se de modelos meramente transmissivos e focando na compreensão dos processos cognitivos que as crianças desenvolvem ao aprender a ler e escrever. A obra, resultante de extensa pesquisa empírica, oferece um modelo construtivista do desenvolvimento da leitura e escrita, influenciando profundamente as práticas pedagógicas e a pesquisa acadêmica em todo o mundo.
Livro Psicogênese da Língua Escrita - Emilia Ferreiro e Ana Teberosky
Os Níveis de Conceitualização da Escrita
Ferreiro e Teberosky identificaram estágios distintos no processo de alfabetização, descrevendo níveis de conceitualização da escrita que a criança atravessa. Esses níveis, pré-silábico, silábico (com e sem valor sonoro), silábico-alfabético e alfabético, revelam a progressiva compreensão da relação entre o sistema de escrita e a linguagem oral. Cada nível representa uma hipótese que a criança formula sobre o funcionamento da escrita, demonstrando que a alfabetização não é um processo passivo de cópia, mas uma construção ativa do conhecimento.
A Criança como Sujeito Ativo do Conhecimento
Um dos principais legados da obra é a valorização da criança como sujeito ativo no processo de aprendizagem. Em vez de serem vistas como "tábulas rasas", as crianças são reconhecidas como possuidoras de conhecimentos prévios e hipóteses sobre a escrita que devem ser levadas em consideração no processo de ensino. A abordagem construtivista proposta pelas autoras enfatiza a importância de se criar ambientes de aprendizagem que estimulem a exploração, a experimentação e a reflexão sobre a língua escrita, permitindo que a criança avance em seu próprio ritmo.
Implicações para a Prática Pedagógica
A teoria da Psicogênese da Língua Escrita teve um impacto significativo nas práticas pedagógicas. Professores passaram a adotar estratégias que valorizam a produção escrita da criança, mesmo que esta ainda não domine as convenções ortográficas. A ênfase recai sobre a compreensão do significado da escrita e a comunicação, em vez da correção gramatical precoce. O diagnóstico dos níveis de conceitualização da escrita permite aos professores planejar intervenções pedagógicas mais eficazes, ajustadas às necessidades específicas de cada aluno.
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Críticas e Desdobramentos da Teoria
Apesar de sua grande influência, a teoria da Psicogênese da Língua Escrita não está isenta de críticas. Alguns autores questionam a universalidade dos estágios de desenvolvimento propostos, argumentando que a ordem e a velocidade de progressão podem variar de acordo com o contexto sociocultural e as práticas de alfabetização. Outros apontam para a necessidade de se integrar a abordagem construtivista com outros modelos teóricos, a fim de oferecer uma compreensão mais completa do processo de alfabetização. No entanto, o debate gerado pela obra de Ferreiro e Teberosky contribuiu para o avanço do conhecimento e aprimoramento das práticas pedagógicas.
"Psicogênese" refere-se ao estudo da origem e desenvolvimento psicológico do conhecimento. No contexto da língua escrita, significa investigar como as crianças constroem o conhecimento sobre o sistema de escrita, desde as primeiras tentativas até o domínio das convenções alfabéticas.
No nível silábico, a criança atribui uma letra a cada sílaba da palavra, mas nem sempre essas letras correspondem aos sons reais da fala. No nível silábico sem valor sonoro, as letras utilizadas são arbitrárias (ex: usa "A" para todas as sílabas). No nível silábico com valor sonoro, a criança começa a utilizar letras que representam os sons das sílabas (ex: usa "CA" para a sílaba "CA" de "CASA").
A teoria da Psicogênese da Língua Escrita está fundamentada na teoria construtivista de Jean Piaget. Ambas compartilham a ideia de que o conhecimento não é simplesmente transmitido, mas construído ativamente pelo sujeito através da interação com o ambiente. A criança, ao tentar entender a escrita, formula hipóteses, testa-as e as modifica, em um processo semelhante ao descrito por Piaget em relação a outros tipos de conhecimento.
As críticas mais comuns incluem questionamentos sobre a universalidade dos estágios de desenvolvimento (a ordem e velocidade podem variar), a ênfase excessiva na construção individual em detrimento da instrução direta, e a necessidade de integrar a teoria com outras perspectivas para uma compreensão mais completa da alfabetização.
Através da análise das produções escritas do aluno, observando as estratégias que ele utiliza para representar as palavras. Peça para ele escrever palavras conhecidas e desconhecidas, e analise a quantidade de letras que ele utiliza, a correspondência entre letras e sons, e a coerência geral da escrita. Existem instrumentos de avaliação diagnóstica baseados na teoria da Psicogênese que podem auxiliar nesse processo.
Sim, a teoria continua extremamente relevante. Embora o contexto da alfabetização possa ter mudado com o advento das tecnologias digitais, os processos cognitivos envolvidos na aprendizagem da escrita permanecem os mesmos. Compreender como as crianças constroem o conhecimento sobre a escrita é fundamental para desenvolver práticas pedagógicas eficazes, independentemente do meio em que essa aprendizagem ocorra. A compreensão dos processos mentais envolvidos na leitura e escrita é crucial, mesmo em um ambiente digital.
A obra "Psicogênese da Língua Escrita" de Ferreiro e Teberosky transformou a forma como entendemos o processo de alfabetização, destacando a importância do papel ativo da criança na construção do conhecimento e influenciando profundamente as práticas pedagógicas. Embora tenha gerado debates e críticas, seu legado permanece inegável. A pesquisa futura pode se concentrar em investigar como a teoria se aplica em diferentes contextos culturais e linguísticos, e como ela pode ser integrada com outros modelos teóricos para oferecer uma compreensão mais abrangente e atualizada do desenvolvimento da leitura e escrita no século XXI.